12.12.25

Confirma-se a relação entre imigração e criminalidade

 


«A operação Safra Justa, no âmbito da qual foram detidas 17 pessoas, entre as quais 10 militares da GNR e um agente da PSP, veio dar razão a André Ventura. Segundo a Polícia Judiciária, os detidos pertencem a um “grupo violento, de estilo mafioso”, que explorava imigrantes ilegais “cobrando alojamentos e alimentação e mantendo-os sob coacção através de ameaças, havendo mesmo vários episódios de ofensas à integridade física”. Ou seja, tal como o presidente do Chega tem defendido, existe uma óbvia ligação directa entre imigração e criminalidade: se não existissem imigrantes, estes portugueses agora detidos não teriam quem escravizar.

Surpreendentemente, André Ventura tem guardado, sobre esta estrondosa vitória política, um modesto silêncio. Apesar de os agentes da autoridade estarem a ser pagos pelos mafiosos, Ventura não apareceu a fazer uma das suas entusiasmantes proclamações contra a corrupção e os corruptos que dão cabo deste país. Apesar de ter aqui excelente pretexto para afixar cartazes a dizer “Os militares da GNR têm de cumprir a lei”, ou “Isto não é uma esquadra da PSP”, Ventura não o fez. Temo que esteja a ficar mole.

O país tem, aliás, um problema difícil de resolver. Este nosso admirável povo, que Ventura tanto ama, tem sido “pastoreado nos últimos 50 anos” (para usar o vocabulário oficial do Chega) pelo PS e pelo PSD, partidos que Ventura tanto odeia. Mas foi esse mesmo admirável povo que votou naqueles iníquos pastores. Se alguém vitimou o povo foi o próprio povo. É ao povo que Ventura deve pedir responsabilidades. A outra hipótese é exigir explicações àqueles que durante anos militaram e ocuparam cargos dirigentes nos partidos-pastores. Ventura conhece bem uma pessoa que fez exactamente isso até 2018. A terceira e última hipótese é culpar aquilo que Ventura designa por “a esquerdalhada”. A responsabilidade pelo estado do país é de um quadrante político que tem menos de um terço do Parlamento, não ocupa a Presidência da República há 20 anos, e não manda em nenhum dos cinco maiores municípios do país. Mas parece que está muito forte na comunicação social, que é o mais importante. Porque só assim consegue exercer uma influência tal que produz o resultado de ter menos de um terço do Parlamento, não ocupar a Presidência da República há 20 anos, e não mandar em nenhum dos cinco maiores municípios do país.»


11.12.25

A greve de 1921

 


Hoje é o dia para conhecer esta realidade.

Daqui.

Manoel de Oliveira

 


Seriam 117, hoje.



A Greve Geral contra o anacrónico Trabalho XXI

 


«Luís Montenegro fez toda uma campanha eleitoral prometendo “estabilidade” e “responsabilidade”. E depois, passados menos de dois meses da tomada de posse, agita por completo as águas do país, sobressaltando famílias e trabalhadores, com a apresentação de um projeto de enorme revisão da lei laboral.

A contestação inicial foi logo imensa e tem vindo a crescer. Não só pelo conteúdo do anteprojeto do governo mas pela intransigência e pela arrogância que a Ministra do Trabalho e que o próprio Luís Montenegro têm demonstrado ao longo destes meses.

Além deste anteprojeto pretender alterar profundamente a relação entre trabalhadores e empregadores, aumentando a precariedade, reduzindo o tempo livre e em família, reduzindo a liberdade sindical e o direito à greve, entre tantas outras coisas, o governo quer negociá-lo sem deixar cair as suas “traves mestras” e desmerecendo por completo aqueles com quem estará a negociar (esperamos) de boa fé, nomeadamente sindicatos e a UGT.

A desfaçatez culmina com a postura face à greve geral de hoje. Uma greve acusada de ter motivações políticas (como se houvesse greves por razões não políticas), de ser inoportuna, incompreensível, anacrónica, extemporânea. Ora, uma greve geral nunca é marcada de ânimo leve. Foi o governo que levou à marcação desta greve com este anteprojeto “Trabalho XXI” e com a desastrosa condução do processo desde então.

Incompreensível é esta postura por parte de um governo suportado por uma minoria parlamentar. Ou não será tão incompreensível assim quando percebemos quem estará disponível para apoiar esta precarização do trabalho e desapoio das famílias. Luís Montenegro sempre a faltar à sua promessa do “não é não” e, pelo caminho, arrasta as famílias e a democracia para a instabilidade. Onde está a tal promessa de campanha eleitoral?

Esta greve geral não é apenas contra o anteprojeto “Trabalho XXI”. É também contra o que o motivou: uma visão anacrónica de sociedade, onde a economia não funciona da mesma forma para todos, onde a flexibilidade é sinónimo de instabilidade, onde os direitos se torcem para (supostamente) fomentar o negócio. Contra uma visão de sociedade que não aproveita a inovação tecnológica para trazer o trabalho verdadeiramente para o século XXI, permitindo que todas as pessoas tenham vidas mais estáveis e mais preenchidas, com mais tempo e mais rendimento. Contra uma visão de sociedade ingrata por todas as lutas passadas que nos deram direitos tão básicos como fim-de-semana, férias, salário mínimo. Contra uma visão de sociedade que olha para as greves como um incómodo a abolir, sem reconhecer o papel que esta forma de protesto teve e tem na obtenção desses direitos. Contra uma visão de sociedade que desdenha os sindicatos, as negociações e os consensos. E, por tudo isto, esta greve nos diz respeito a todas e a todos.

Se Luís Montenegro está verdadeiramente preocupado com a estabilidade do país, só tem um remédio: deitar fora esta sua reforma laboral. Assim, não avançará com uma reforma que nunca perduraria no tempo e acalmará as águas que agora agitou.»


11.12.2025

 


Vieira Resurrected no Facebook

10.12.25

Catarina, hoje

 



Saudades de Salazar?

 


10.12.1948 – Declaração dos Direitos Humanos




 

Em 10 de Dezembro de 1948, os países-membros da ONU aprovaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, com 48 votos a favor e 8 abstenções (União Soviética, Bielorússia, Ucrânia, Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia, Arábia Saudita, e África do Sul). A iniciativa surgiu como uma reacção às atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra.



A greve geral também é pelo futuro da nossa economia

 


«Sobre a contrarreforma que leva à que provavelmente será a greve geral mais transversal, no seu pluralismo sindical, de sempre, já escrevi várias vezes. Sobre o banco de horas individual, que tirará aos trabalhadores o que recebiam por horas extraordinárias; a facilitação do despedimento individual sem junta causa e do despedimento coletivo para substituir trabalho com direitos por contratação externa mais barata e sem deveres; os entraves ao trabalho sindical; a forte possibilidade de passar uma vida inteira como precário (no segundo país com mais precariedade na Europa), alargando os motivos para contratos a prazo ao facto de nunca se ter tido um contrato permanente.

A lista é tão grande, que dava para vários textos a explicar ao primeiro-ministro, que finge não compreender a razão de uma greve a que chama “política”, mesmo quando sindicatos, da direita à esquerda, dos independentes às duas centrais sindicais, se unem de forma inédita. Mas na véspera da greve, quero falar de outra parte que é, na realidade, um recuo em relação ao pouco que se tinha conseguido na Agenda do Trabalho Digno: a negociação coletiva, instrumento defendido por qualquer social-democrata, por mais moderado que seja.

Um dos argumentos em defesa da contrarreforma laboral é que temos de nos preparar para o futuro. Nada há, neste imenso pacote legislativo, que tenha relação com os novos desafios. Pelo contrário, a redução de tempo de formação e o recuo na regulação do trabalho com plataformas digitais, como a Uber, provam a mentira. Preparar o futuro será, para qualquer pessoa razoável, regular novas formas de trabalho e novas realidades económicas para que à necessária flexibilidade das empresas não corresponda o regresso do trabalho à jorna. Esse foi o segredo dos anos dourados da Europa: tecnologia com direitos, crescimento com sindicatos. Não há outra forma de garantir a distribuição de riqueza.

Esta contrarreforma deixa-nos para trás. Como escreveu Ricardo Paes Mamede, num artigo do “Público”, enfraquecer a negociação coletiva é travar o desenvolvimento económico. Quem compete baixando os custos de trabalho desiste de investir na organização, na tecnologia e na qualificação. Participa numa corrida para baixo que leva o país consigo. Pelo contrário, “quando não é possível competir à custa de salários baixos, a competição desloca-se para a inovação, a eficiência, o investimento em processos e em capital humano”. Uma lei laboral que desprotege os trabalhadores favorece as empresas menos inovadoras. Por outro lado, continua o Ricardo, quem está sempre à procura de novos precários não investe na competência, que exige tempo e formação. Esta lei pune quem aposta na qualidade.

O aumento dos salários não depende apenas do aumento da produtividade, como insistem os que dizem que primeiro temos de crescer e só depois distribuir. Se assim fosse, os salários tinham acompanhado o aumento da produtividade, nas duas últimas décadas, e isso não aconteceu. À produtividade temos de acrescentar, como em qualquer jogo em que se confrontam interesses, o poder negocial dos trabalhadores. E esse poder resulta da sua organização, que se faz em torno dos sindicatos.

Na realidade, é uma pescadinha de rabo na boca: os sindicatos são mais fortes se os mecanismos de negociação coletiva forem mais robustos, porque aí está a sua utilidade; e ela será mais robusta se os sindicatos forem mais fortes. Fragilizar a negociação coletiva é, portanto, atacar os sindicatos e a capacidade negocial dos trabalhadores na hora de distribuir o bolo do aumento da produtividade.

No jargão sindical, usa-se a palavra “patrão” como uma realidade uniforme. É natural, mas os patrões não são todos iguais. Não me refiro à ética, que não é para aqui chamada. Refiro-me aos seus interesses e necessidades. As empresas com mais força política são, em Portugal, ou rentistas, ou quase monopólios naturais, ou em setores relativamente protegidos da concorrência externa. Isto ajuda a explicar a nossa baixa produtividade, aliás.

Por outro lado, falamos muito da pouca representatividade sindical. Sim, é modesta. E, para alem de culpas próprias, a razão está no princípio deste artigo e tenderá a agravar-se com este pacote laboral: sem negociação coletiva forte não há sindicatos fortes, porque perdem parte da sua utilidade. Não se fala tanto da representatividade das nossas associações patronais, que está muitíssimo abaixo da média da OCDE. Talvez a razão seja a mesma: se a nossa legislação não favorece a negociação coletiva, o associativismo empresarial só tem interesse como lóbi de cada setor.

Porque falo disto? Porque suspeito que a permanente necessidade de ir revendo a nossa legislação laboral venha de um grupo de patrões que mantém forte influência política junto dos governos, mas está muitíssimo longe de representar os setores mais dinâmicos da nossa economia. Empresários que estão viciados na concorrência por via da mão-de-obra barata e descartável, para que não tenham de dar o salto para o futuro, que os exponha a quem aposta nos argumentos que têm de contar.

Há muita coisa a mudar, por parte do Estado, para tornar as nossas empresas mais competitivas. Incentivos à formação, para que flexibilidade não signifique precariedade. Uma profunda reforma na justiça. Uma reforma do Estado que seja mais do que extinguir institutos e reduzir quadros para conseguir ter umas manchetes. O Simplex e todas as reformas a ele associadas, levadas a cabo pelo mais detestado dos ex-primeiros-ministros (por outras e boas razões), fizeram muito mais pela competitividade da nossa economia do que as sucessivas reformas laborais.

Como escrevi há 15 dias, tudo o que é relevante na nossa lei laboral nasceu em 2003. Todas as sucessivas reformas são deste século e só uma, há três anos, foi favorável aos trabalhadores. Não é a nossa legislação laboral que é anacrónica. São aqueles que acreditam que a redução de poder negocial dos trabalhadores, que permitirá manter salários baixos, tornará a nossa economia mais competitiva.

Ao contrário do que os mesmos que defendem esta contrarreforma diziam, o forte aumento do salário mínimo na última década não criou desemprego nem levou boas empresas à falências. Pelo contrário, preparou-nos para um futuro em que o argumento do trabalho barato não vencerá a aposta noutras vantagens concorrenciais.

Muitos se queixam, e com razão, de que o salário médio está cada vez mais perto do salário mínimo. Porque o segundo dependeu, com bons resultados, de decisão política. O primeiro dependerá de negociação coletiva. Se ela fosse forte, os salários teriam aumentado com a produtividade, as empresas que vivem de baixos custos laborais procurariam outros argumentos competitivos e o nosso país estaria mais preparado para o futuro. Como estão os países onde ela é um hábito quotidiano.

Extraordinário é que, em vésperas de greve geral e sem qualquer relação com o que está no anteprojeto, que retira poder negocial aos sindicatos e desprotege o trabalhador, Luís Montenegro venha, qual feirante em liquidação geral, dizer que o salário mínimo irá para os 1500 ou 1600 euros (o seu compromisso é chegar aos 1100 em 2029) e o salário médio para 2500, 2600 ou 3000 euros. Quem dá mais no mercado da desesperada de agosto, que amanhã anda à roda? Mais um dia de greve e o SMN chegava aos 3000 euros e o médio aos 10000. Tudo apresentado num PowerPoint. Ou mostraram ao primeiro-ministro um anteprojeto oposto ao que existe, ou julga que ficará no poder mais umas décadas ou, mais provável, a falta de respeito por quem trabalha é mesmo absoluta.

NOTA: Amanhã, coerentemente, não publicarei a minha crónica habitual. Estarei em greve»


Eurovisão 2026

 


«A iniciativa ganhou visibilidade depois da decisão da União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês) de continuar a permitir a participação de Israel no festival e de a RTP ter anunciado que“irá participar” no evento em Viena, afirmando que votou a favor das novas regras de transparência e votação aprovadas pela UER.

No texto da petição, pode ler-se que “esta postura [da RTP] é inaceitável perante a contínua catástrofe humanitária e ofensiva militar na Faixa de Gaza, e perante os escândalos de manipulação de voto que mancharam a edição de 2025 em Basileia, comprovando a incapacidade da organização (EBU/UER) em travar a politização do evento”.


9.12.25

Greve de Jornalistas

 


ESTA GREVE GERAL TAMBÉM É PARA JORNALISTAS

Todos os antigos presidentes do Sindicato dos Jornalistas (entre os quais tenho a honra e o orgulho de me incluir) subscreveram um apelo à adesão dos jornalistas à greve geral de dia 11 de dezembro, contra a proposta de legislação de trabalho apresentada pelo Governo. Aqui se deixa o teor do referido apelo:

O jornalismo é feito por pessoas que trabalham, como as outras, na maioria com baixos salários e contratos precários, que na mesma medida serão afetadas pela danosa e incompreensível revisão das leis laborais proposta pelo atual Governo.

Ainda que tenham deveres próprios, desde logo o de informar, os jornalistas não estão limitados nos seus direitos enquanto trabalhadores, o que inclui o direito à greve.

Além disso, o jornalismo deve espelhar a comunidade em que se insere e também acompanhar as suas aspirações e reivindicações, sempre solidário com os mais vulneráveis e denunciando qualquer tentativa de fazer regredir os direitos e as conquistas sociais já alcançados.

A revisão laboral em cima da mesa é um gigantesco ataque à dignidade de quem trabalha - e o jornalismo sempre se pautou pela defesa da dignidade.

Aderir à greve geral do dia 11 de dezembro é, pois, ficar do lado certo da História, ao lado do coletivo de trabalhadores e trabalhadoras que justamente reivindicam melhores condições de vida, defendem os seus direitos e contestam a revisão laboral em curso.

A legislação proposta, a ser executada, aumentará também a precariedade dos e das jornalistas, com impacto direto na liberdade de imprensa e, portanto, na qualidade da democracia.

Assim, enquanto cidadãos, jornalistas e antigos presidentes do Sindicato dos Jornalistas, consideramos que é nosso dever acompanhar o apelo do nosso Sindicato para uma adesão em massa à greve geral.

Apelamos a quem exerce a profissão de jornalista para que se junte a esta luta, essencial para impedir o impacto desastroso da proposta de revisão laboral nas vidas dos trabalhadores e de toda a comunidade.

CESÁRIO BORGA, JOSÉ PEDRO CASTANHEIRA, JOAQUIM LETRIA, ANTÓNIO MATOS, DIANA ANDRINGA, ALFREDO MAIA e SOFIA BRANCO

Presidenciais